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Varejista confirma inconsistências bancárias da ordem de R$ 20 bilhões. Foto: REUTERS

Após a Americanas publicar um fato relevante, no último dia 11/01, informando que foram identificadas “inconsistências em lançamentos contábeis”, valor esse que pode chegar a marca de R$ 20 bilhões, os preços das ações da empresa (AMER3) despencaram.

No pregão do dia seguinte ao comunicado, as ações da empresa caíram quase 80%, o que deixou os investidores extremamente preocupados.

Especula-se que o rombo tenha ocorrido por meio de uma operação conhecida como “risco sacado”. Essa é uma linha de crédito que envolve a empresa, seus fornecedores e instituições financeiras.

Nessa modalidade, o banco paga a dívida da empresa junto ao seu fornecedor e, consequentemente, a empresa passa então a dever o banco, que cobrará o valor do empréstimo acrescido de juros.

No caso da Americanas, pelo que se sabe até o momento, houve uso do risco sacado nas negociações da empresa, mas as operações não foram registradas de forma correta nos balanços contábeis. Isso gerou dúvidas sobre a solvência da companhia e seu grau de endividamento, trazendo insegurança aos investidores.

Recuperação Judicial

Após oito dias do primeiro comunicado, hoje a varejista declarou dívidas de R$ 43 bilhões com um total de 16.300 credores. Com isso, a Americanas entrou com um pedido de recuperação judicial para evitar a quebra da empresa.

“Buscou-se o ajuizamento da tutela cautelar de caráter antecedente, a fim de evitar danos irreversíveis ao seu caixa, que é essencial, passe o truísmo [obviedade], para o funcionamento de uma grande empresa do setor varejista.”

Comunicado da Empresa

Acesse os fatos relevantes publicados pela empresa pelo link: https://ri.americanas.io/informacoes-aos-investidores/comunicados-e-fatos-relevantes/

Como está a situação da Americanas hoje?

Mais de um ano depois do reconhecimento da fraude fiscal, a empresa ainda sofre com os números adversos. Antes da divulgação, a varejista valia R$ 10 bilhões, em 11 de janeiro de 2023. Um ano depois, seu valor despencou para apenas R$ 783 milhões, uma queda de 92,7%. Embora a empresa esteja em um processo de recuperação judicial, tentando recuperar sua antiga posição, parece ainda estar longe desse objetivo.

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O número de lojas físicas da empresa diminuiu em 6,5%, passando de 1.882 unidades em dezembro de 2022 para 1.759 em novembro de 2023. Mais de 7,5 milhões de clientes deixaram de ser ativos nesse período. Isso também impactou o mercado de trabalho: a empresa tinha 44 mil funcionários antes da crise, agora conta com 33,8 mil, uma redução de 23%.

Esse cenário teve um impacto significativo na economia em geral. A quinta maior varejista do país conseguiu esconder por um tempo um calote bilionário no mercado de crédito e nos grandes bancos, inflando seus resultados em R$ 25,3 bilhões.

Jorge Paulo Lemann fala das dificuldades

Durante a Brazil Conference 2024, evento que reúne a comunidade brasileira em Harvard, Lemann falou sobre os desafios enfrentados pela varejista. Em sua palestra, o empresário falou dos seus “não sucessos”, referindo-se especificamente a Americanas.

“Quando você perde uma partida de tênis, sempre pensa como fazer melhor”

“No geral, fui muito bem sucedido nos negócios, mas nos últimos anos estou lidando com um grande problema numa das empresas que investi de varejo, que teve uma fraude contábil”.

Embora não tenha entrado a fundo na situação da empresa, ficou clara a frustação do empresário com o ocorrido. Ele ressaltou que essa é uma oportunidade de fazer diferente e que é preciso salvar a companhia que gera cerca de 30 mil empregos.

Os bilionários da 3G Capital, Jorge Paulo Lemann, Carlos Sicupira e Marcel Telles, venderam suas posições na Kraft Heinz, fabricante de alimentos americana que tem como acionista a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett.

Agora, a expectativa é que a 3G Capital invista mais na Americanas, para ajudar na reversão do rombo contábil.