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Será que o fim da bolha dos carros no Brasil está próximo? vamos recordar algumas reportagens recentes:

“Montadoras param produção e instauram férias coletivas após desempenho abaixo do esperado na venda de veículos”. Jovem Pan.

“Com demanda em baixa, montadoras param produção”. Uol.

“Montadoras pararam oito vezes no primeiro trimestre de 2023”. Metrópoles.

Essas são apenas algumas das várias notícias que retratam a situação atual do setor automobilístico em nosso país. Nesse sentido, estaríamos diante de uma bolha no preço dos carros?

Para se ter ideia, no ano de 2019, antes da pandemia, um hb20 de entrada, motor 1.0, custava R$ 46.490. Na época, o salário mínimo era de R$ 998.

Hoje, quatro anos depois, a versão mais simples do Hb20, também 1.0, custa R$ 82.290, enquanto que o salário mínimo está em R$ 1302.

Isso quer dizer que enquanto o salário mínimo subiu cerca de 30%, nesse período, o hb20 subiu mais que o dobro: 77%. Essa conta não fecha.

O que fez esses preços dispararem tanto?

Primeiramente, é preciso lembrar que na época da pandemia, a taxa de juros nos EUA estava próxima de zero. Isso permitia que pessoas comprassem carros financiados e pagassem, no parcelado, valores próximos do que seria a compra a vista.

Estados Unidos – Taxa De Juro. Fonte: Trading Economics

No Brasil, também, as facilidades eram grandes. Com a Selic em torno de 2% saia muito barato financiar um carro em várias prestações. Mas logo vieram as necessidades de fecharem as fábricas, por conta do risco de contaminações.

Além disso, o setor automobilístico enfrentou uma crise de abastecimento de chips utilizados na fabricação dos veículos. Essa configuração gerou um cenário ideal para a elevação dos preços.

É a famosa lei da oferta e da procura: tinha muita gente querendo comprar e as montadoras tinham poucos carros para vender. O resultado nós conhecemos.

Carros seminovos também subiram os preços

Mas não foi apenas os carros 0 km que tiveram seus preços aumentados, os seminovos também tiveram uma considerável valorização.

Não é difícil você conhecer alguém que comprou um seminovo e depois vendeu mais caro do que o valor que ele mesmo tinha comprado.

O vento soprava tanto a favor que a Carvana, uma empresa americana de loja online de carros usados, viu suas ações subirem mais de 300% entre março de 2020 e agosto de 2021.

Ações da Carvana disparam durante o período da pandemia.

Em meio a todo esse cenário, chegamos ao ponto que o valor médio do carro novo no Brasil está em torno de R$ 130 mil.

Isso quer dizer que uma pessoa que ganha um salário mínimo teria que passar mais de 8 anos trabalhando, sem gastar um real, para poder comprar um carro desses a vista. Como chegamos nesse ponto?

Afinal, de quem é a culpa?

A quem jogue a culpa no chamado custo Brasil, que engloba toda nossa pesada carga tributária. Mas essa não é toda a verdade!

O fato é que o brasileiro gosta de comprar carro e as montadoras sabem disso. Chega até ser questão de status ter um carro na garagem. Aí a lógica é simples: Se as pessoas continuam comprando carros e eles estão mais caros, por que vou baixar meu preço?

Estudos indicam que o lucro das montadoras brasileiras é o triplo dos EUA e o dobro da europa.

Enquanto nos EUA a margem média de lucro das montadoras fica na faixa dos 3% no Brasil essa margem fica na casa dos 10%.

Mas a verdade é que esses preços não podem subir pra sempre. Uma hora eles retornam a média e isso já começou a acontecer.

A bolha dos carros começou a estourar

A venda de carros para pessoa física está caindo desde o ano de 2020. E em 2022, pela primeira vez, foi vendido mais carros para CNPJs do que para CPFs.

A queda na venda de carros para pessoa física ao longo dos últimos 6 anos.

Essa queda na demanda está fazendo com que montadoras diminuam a produção e ofereçam férias coletivas para seus funcionários. Logo, não é difícil entender o motivo que muitos especialistas acreditam que está chegando próximo o fim da bolha dos carros.

Um relatório do JP Morgan indicou que o preço dos carros usados devem cair até 20% em 2023.

O gráfico da bolha

Eu quero apresentar para vocês esse gráfico que mostra as fases de uma bolha especulativa. No eixo vertical nós temos o preço e no eixo horizontal o tempo.

Os principais estágios de uma bolha financeira. Fonte: Investificar.

Ele é dividido em quatro fases: discrição, consciência, modismo, onde você tem a cobiça, ilusão até chegar nas dúvidas e, por fim, vem a decepção, onde os preços caem e tendem a retornar a média.

Nesse sentido, veja o que já aconteceu com as ações da Carvana, que eu falei a pouco tempo para vocês que ela tinha se valorizado mais de 300%. O preço despencou e hoje elas valem menos do que antes da pandemia. Alguma semelhança?

Veja também: Quanto investir por mês para chegar no primeiro milhão?

Além de fatores como a alta da taxa Selic, o próprio governo também estuda medidas para tentar voltar os carros populares no Brasil. Afinal, ninguém aguenta mais os preços tão exorbitantes, ainda mais em um momento que se deseja aquecer a economia.

O fato é que: seja por oferta e demanda, seja por incentivo do governo federal, já podemos vislumbrar um futuro próximo em que os preços dos carros estarão mais acessíveis. Sendo assim, ao que tudo indica, a era do carro popular de R$ 100 mil está chegando ao fim.

https://youtu.be/xN9PZoGKaFw